domingo, setembro 28, 2008

Não mais que do nada.


[ androginia as avessas ]

"E nessa noite fria, ela sozinha sabe de seu destino inevitável.
As fortes dores no peito e as rajadas de sangue expelidas em cada tossida, são mais do que presságios perigosos que já se acumulam a anos. E de alguma forma, ela sabe que é essa noite, porque jamais se saberá.
Caminha em meio a estranhos, ao deserto de ruas escuras, becos, vielas a alamedas sujas. Pra onde, então ? Um bar seria uma boa pedida, talvez, mas ela não gostaria de fazer alguém testemunha de momento tão vazio, final.
Pra quê um bar se meia garrafa de vinho quente já é o suficiente ou até mais do que se poderá consumir ? Talvez apenas uma parte incosciente que com medo grita e clama por mais companhia, mesmo que desconhecida.
Muro alto, local de aparência inóspita e tão velho. Portões altos e fechados, já que é tão tarde. Nada que uma pequena (e já há muito conhecida) fenda na cerca de metal, não resolva.
E o mais frio mármore preto parece agora o banco mais confortável a aconchegante possível, mesmo em meio a um silêncio literalmente sepulcral. E o que fazer nesse momento de solidão que soaria como extrema ? Soaria se eles não estivessem ali, claro. Eles, os responsáveis por tantas noites sem ar, noites de riso, de alegria, de calor interior que só um fumante entende tão bem.
Como sempre, eles nunca a abandonaram, sempre ali, em todos os momentos mais diversos.
Sentar é incômodo, dói a cada respirar, a cada tragada, a cada expirar de fumaça tão campestre e de sabor tão suave. Deitar ali é mais convidativo do que nunca, os músculos relaxam de forma nunca sentida, o ar entra tão puro e gélido como jamais fora mesmo em dias de chuva intensa.
Ali o céu parece nunca ter tido tantas estrelas de brilho incalculável, praticamente diamantes gigantescos reluzindo em um breu imensamente amigável. Um fechar de olhos é tudo que ela almeja, como se clamasse por ver uma realidade utópica que a livraria do redemoinho de pensamentos e sentimentos contraditórios, da sensação de culpa e dever cumprido que se chocam naquela fração de segundo.
Fecha os olhos, menina, é tua consciência que grita! Mais um trago, e veja as cores que nunca apreciou, dotadas de aromas doces e leves, jamais presenciados. Uma cantiga toca ao pé do ouvido, onde só ela escuta, com os acordes que não puderam ser tocados por ninguém.
E simples assim, o cigarro cái, e lentamente se consome pelo mundo, em fagulhas que nunca irão se reacender.
Apagado, acabado. Fria, inerte.
Sopor aeternus."


À A.Shalders, que mesmo sem sigficado na minha vida, mesmo sem que eu conheça ou tenha trocado palavras diretamente, me motivou a escrever um "conto" novamente.
O que me inspirou foi nada além do que a depressão e a degradação de vida que Anna-Varney me transmite.
Fragmentos de um possível trágico futuro ? Responda-me, ó id !



[ Sopor Aeternus - In Der Palastra ]

segunda-feira, setembro 08, 2008

Meus 20 melhores amigos...


[ ...estão num maço de cigarros. ]

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"
Eu sei que ele vai chegar.
Ele vem.
A qualquer momento ele chega.
Olho para os lados.
Eu sei que ele vai chegar.
Espero.

Acendo um cigarro.
Olho para os lados.
Eu sei que ele vai chegar.
Espero.

Peço uma cerveja.
Fumo o cigarro.
Olho para os lados.
Eu sei que ele vai chegar.
Espero.
Bebo a cerveja.
Puxo um papel da bolsa, uma caneta, escrevo.
Fumo o cigarro.
Olho para os lados.
Eu sei que ele vai chegar.
Espero.

Ouço a música.
Observo as pessoas.
Escrevo.
Bebo um gole de cerveja.
Dou um trago.
Olho para os lados.
Eu sei que ele vai chegar.
Espero...

Olho compulsivamente para os lados.
Fumo.
Fumo.
Acaba o cigarro.
Bebo mais três goles de cerveja.
Encho o copo.
Escrevo.
Escrevo.
Eu sei que ele vai chegar.
Espero...
Espero... olho para os lados.

Acendo outro cigarro.
A cerveja acaba.
Peço a conta.
Escrevo.
Olho para os lados.
Já não sei se ele vai chegar.
A conta chega.
Pago.
Caminho até o carro.
Acendo um cigarro.
Já não espero.
"


Talvez a vida seja assim, uma eterna espera que nunca chega.
Cabe a você, sair pra viver ou esperar que ela te peça pra isso.

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Muita gente me questiona sobre isso, se é vício, se é pra fazer graça.
Graça legal essa, que se faz na maioria das vezes, só.
É mais que um vício.
Reconheço o mal imenso que representa ao meu corpo, claro, não seria cega a esse ponto.
Mas o que ninguém entende é o quanto isso me faz bem à alma.
Podem chamar de válvula de escape, de defesa falha ou do que quer que seja.
Pra mim, é uma companhia reflexiva.

Se eu preciso fumar ? Se eu dependo deles ? Não, duplamente não.
Tenho a consciência de que quando eu quiser parar, é tranquilo. Ninguém mais senhor de mim do que eu. Dono de minhas vontades em absoluto.
É, usei "dono" no masculino, me sai mais sonoro, creio.

"Então porque tu não pára?"
Simples, eu não quero.
Não sinto a menor vontade de parar, mesmo já sentindo o corpo falhar em diversas horas, mesmo com acessos de tosse diários, repentinos e repetitivos, mesmo com a taquicardia que se sucede após um lance de escada com mais de 8 degraus.
Será que vale a pena se submeter a tudo isso por causa de uma dependência medíocre de alcatrão e nicotina ? Óbvio que não.
Mas de uma forma que só um fumante que é apaixonado pelo seu cigarro entende, que já passou por vários momentos onde só o seu careta foi sua companhia mais compreensiva, é recompensador.

Meu hollywood menta é como se fosse o meu Toddynho. É meu inseparável companheiro de aventuras cotidianas, dos melhores aos piores momentos, de todos os lugares e horários. É meu calmante instantâneo, meu contensor de lágrimas, meu "ombro" amigo que é capaz de me induzir a uma auto-reflexão sem sequer balbuciar palavra.
Quem nunca fumou um cigarro e gostou, não será capaz de entender a que sensação eu me refiro.
Sendo assim, um trecho excelente de
Mário Quintana:

"Um cigarro pode ser tudo menos um simples cigarro. Para os fumantes ele é uma fonte de inspiração, um relógio que marca o tempo de determinadas atividades. Para os não-fumantes ele é um incômodo social que precisa ser banido do planeta. Desconfia dos que não fumam: esses não têm vida interior, não tem sentimentos. O cigarro é uma maneira sutil, e disfarçada, de suspirar."


Não me culpem por gostar tanto de sonhar acordado e ver a névoa real dos meus desejos.




quinta-feira, setembro 04, 2008

E um dia, tudo finda.


[ felicidade natural ]


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"Não há carinho nos seus olhos
No brilho deles vejo ódio
Não há razão pra mais
Tenho que admitir
Não há amor na sua alma

Os nossos beijos são amargos
Nossas carícias são tão frias
Eu juro para mim
Com um outro alguém
Que tudo vai voltar
Como um dia eu já amei

Eu vejo muito o passado
Onde eu lutava do seu lado
Você mudou demais
Você se transformou
Não há amor na sua alma"


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É, eu me separei.
Não foi divórcio, até porque nunca fui casada no papel.
Mas é muito engraçado chegar e falar pra um amigo:
"Cara, saca só, eu tenho 19 anos e sou desquitada!"
Seria muito cômico, se não fosse trágico né..

Fiquei casada durante 1 ano e 4 meses, exatamente o tempo da maior aposta que rolou em uma das minhas despedidas de solteiro, ou seja, como acertaram, tem uma grade de cerveja aí pra beber =)

Mas sim, os próximos sabem como tudo isso foi muito rápido e muito louco. Em praticamente 50 dias, eu conheci por internet, conheci pessoalmente e fui embora morar junto. Inconsequência? Com certeza, mas paixão arrebatadora acima de tudo, que me cegou a ponto de abandonar minha vida cheia de planos engatilhados sem pensar duas vezes. E por vontade própria, nunca fui coagida a isso, mesmo.

Foi MARAVILHOSO ter vivido tudo isso, de modo que não me arrependo de absolutamente nada que passei nesse tempo. Aprendi demais, fui muito feliz, amadureci muito que não aconteceria caso não tivesse vivido essa experiência tão marcante e renovadora.

Amei demais, me doei demais, sofri, chorei, ri, pensei, decepcionei-me, cresci, conheci pessoas maravilhoas que nunca vou esquecer, visitei lugares lindos. Tem coisa melhor do que se permitir viver o que se sente ? Pra mim, não.

Terminou.
De uma maneira drástica, traumática e que muito me frustrou. É horrível depois de um tempo junto, perceber apenas no final que não se conhece de verdade a pessoa que estava ao nosso lado. É agora, no fim de tudo, que conseguimos compreender realmente o velho ditado clichê que diz que "o amor é cego". Realmente o é. Quando amamos, nos cegamos voluntariamente pro que somos, nos entregamos de forma tão desmedida que tudo passa a ser outro. Não somos capazes de perceber máscaras, dissimulações ou mentiras, tudo porque julgamos incapazes disso as pessoas que tanto amamos. Mas a vida não é e nunca será justa, portanto temos de aceitar que as pessoas que mais amamos, são e sempre serão as que mais vão nos machucar. Até porque é delas que cobramos mais, que esperamos mais, que depositamos nossos sonhos e esperanças e vivemos na ilusão de que são perfeitas e incapazes de nos causar qualquer mal. Doce ilusão, tanto que poderia me considerar uma diabética agora.

As pessoas mudam demais, não continuam as mesmas. Não amam da mesma forma, não olham com o mesmo carinho, não dedicam a mesma atenção. Se transformam em monstros invisíveis que só nos matam por dentro dia após dia, por nossa incapacidade de enxergar isso. Afinal, nada permanece inalterado até o fim.

Apesar dos pesares, nunca desejo qualquer mal a alguém que me foi tão importante um dia. Muito pelo contrário, sou incapaz de fazer mal calculado e premeditado, e até inconsciente. Não faz parte do que eu sou, e não é porque me fizeram isso, que pagarei na mesma moeda. Minha nobreza de espírito não me permite rebaixar-me a tanto, descer tão baixo. Por isso, desejo apenas coisas boas, e que tudo que me desejes, volte em triplo. De tudo isso, resumo:

"Quero que a estrada venha sempre até você
E que o vento esteja sempre ao seu favor
Quero que haja sempre uma cerveja em sua mão
E que esteja ao seu lado
Seu grande amor."

Pois até os piores cafajestes precisam de um amor, até um canalha precisa de afeto. Quem sabe assim, não descubram o que é amar de verdade e se tornem pessoas melhores e corrijam as suas falhas de caráter?

Já superei tudo que me aconteceu, por incrível que pareça. Do mesmo modo que começou rápido, passou rápido. Só nunca vou conseguir perdoar ou esquecer todas as coisas ruins que fui obrigada a passar. E pior, coisas que foram feitas com o único intuito de me magoar, me ferir, mas que acabaram foi por banalizar tudo de bonito que essa história teve. As coisas que passei só serviram pra que eu visse quão pequenas eram pra outra pessoa, quão sem valor muito do que eu achava importante, se tornou. Mas acontece, nem todo mundo é capaz de ter caráter quando se é tomada por uma vingança pessoal ridícula, totalmente direcionada a quem se disse um dia amar.

Todo meu bem estar atual, se deve nada mais a poder me sentir "eu" novamente, depois de tanto tempo. Pode colocar meus planos em prática, minhas vontades banais, estar com os amigos, rir publicamente, ser boba e tosca, dançar no meio da rua em uma madrugada qualquer. E tudo isso, sem medo de qualquer represália. Mas além disso, alguém muito especial, que tem ocupado meus pensamentos e aquecido meu coração, tem um papel fundamental nessa história. Foi meu acelerador de melhoras, sem dúvida, e que vai permanecer na minha vida o tempo possível. A ele, dedico todos os meus melhores sorrisos, as palavras mais sinceras e todo o tempo do mundo, na certeza de que logo logo vamos concretizar tudo que imaginamos com tanto carinho.

Mas enfim, não serão essas frustrações e sacanagens descabidas que me farão modificar minha essência, que é a de ser apaixonada pela vida, de agarrar as oportunidades boas que me surgem, e de me permitir viver intensamente tudo aquilo que acredito ser válido.

O que não me mata, há de me fortalecer.
Portanto, prazer, sou a intransponível Muralha da China!