sábado, março 10, 2007

Situações Inusitadas

[ monstro induzido ]



Incrível como as pessoas olham em mim um ponto de desabafo.
Sexta, Reviver. Local point da descolação. Praça Nauro Machado, Gigabyte (vulgo Chez Moi), Bar do Porto, Observatório. Praticamente todas as pessoas, na maioria alternativas, optam por algum desses locais e é praticamente de praxe comparacer tooodas as sextas.
Chegando cedo, cumprimentando mil pessoas, tudo normal, como sempre. Em cidade pequena não tem como dar 5 passos sem encontrar algum conhecido.
Não demorou muito para que um cidadão visualmente punk, me abordasse:
- Iae, beleza ? Você é emo ?
- Emo ? (muxoxo de indignação) Não, cara.

Daí começou uma conversa louca e pseudo-ideológica da parte dele, falando que tava caçando os emos porque eles tem que aprender a não deturpar a ideologia punk, e um monte de blá blá blá. A conversa tomou proporções enormes, e ele sacou que meu visual não tinha nada haver com qualquer rótulo que ele tinha imaginado. Claro que visual é a primeira impressão, e como eu estava totalmente monocromática, natural que ele pensasse isso. Só sei que chegamos a um ponto interessante: skinheads.
Ele saca de muitas coisas à cerca disso, mas tem idéias violentas e inclusive deturpadas no que se trata disso. Foi uma conversa extensa, que terminou com o fato dele me advertir a não usar mais meus belíssimos suspensórios vermelhos. Porque segundo o mesmo, está ocorrendo a 'racha' dentro da facção punk, entre os punks e os 'pseudo-punks'. Só sei que o cara é até gente boa, mas com uns pensamentos muito agressivos no que se trata da visão dessas diferenças. Tudo bem que cheguei a amedrontar, em SP, os emos, bater de bengala e tomar dinheiro, mas só pra fazer graça mesmo. Não sou à favor de violência física ou até mesmo verbal na resolução de diferenças ideológicas/visuais/musicais/sexuais. Pra mim, natural que não sejam partidários do mesmo gosto, mas deve existir respeito mútuo. É isso que defende o Projeto Revô, já detalhado aqui.
Pois bem, prosseguindo com a sucessão de fatos inusitados.
Lá pelas 2 da manhã, um conhecido que eu já havia cumprimentado, chega pra mim DO NADA falando que algo importante tinha acabado de ocorrer, e que ele precisava ME contar. Nossa, fiquei espantada por ser a ouvinte essencial de assuntos tão íntimos e recém concretizados.
Indo pra casa, de ônibus com a galera, tudo tranquilo. Animação total na típica cantiga de Abiodum "eu, você, a vadia, ninguém presta", cantada em ALTO e bom som dentro do ônibus, com direito a vaias e chingamentos beeem ofensivos.
No meio do caminho pra ir ao posto Hungry da curva dos 90, comprar 'goró' pro pessoal, um carro pára, abaixa o vidro e se ouve:
- Aritana!??

Essas coisas só acontecem comigo. O cara, que eu até conheço de vista de algum lugar que não me recordo, me ofereceu carona. Hoje mesmo, quando meu pai foi me deixar no Reviver, me falou para não aceitar carona de estranhos. Mas,.. conhecidos de vista de sabe-se lá de onde, são considerados estranhos ? Eu não considerei, tendo em vista uma pernada imensa debaixo de chuva que eu teria de dar até minha casa. O cara inclusive sabia onde eu morava e até que eu trabalhava dando aula lá no Vinhais.
Essas coisas me assustam, mesmo.
Mas tudo bem, tranquilo.
Em plenas 4 da manhã, Aritana chega em casa e liga o computador na tentativa de dar uma arrumada nos arquivos, já que nesse horário não têm ninguém pra conversar on-line mesmo. Separando uns arquivos de texto afim de colocá-los em suas devidas pastas, me deparo com o 'cristina.doc'. Pensei se tratar de algum documento da minha mãe, porque aquilo realmente não tava dentro de qualquer memória minha. Na curiosidade, abri.
Me deparei com uma conversa de msn de duas ex-amigas, terminando a amizade nessa conversa. E pelo que entendi, porque uma delas virou evangélica e tinha um namorado que a outra julgava ser ridículo, sangue-suga e anti-social. A cristã acusava a outra de não a aceitar por isso. Pelo que li e pude concluir, a recém convertida realmente ficou louca. Mas enfim ... o que teria EU haver com isso ? Até conheço uma das duas, mas não consegui imaginar como isso conseguiu vir parar aqui no meu computador. Nem imagino quem raios possa ter me mandado isso. Sinceramente ...
Não consigo acreditar mesmo como as pessoas me têm como ouvinte e auxiliadora. Não que julgue isso algo ruim, muito pelo contrário, pois isso é um grande sinal de que como psicóloga eu não vou morrer de fome, e muito menos procurar clientes.

Em resumo, uma noite agradável, cheia de
boas e inusitadas surpresas. E o melhor: em uma companhia ideal, reconfortante e extremamente agradável.








[Placebo - The Bitter End]

domingo, março 04, 2007

Ilusão Induzida

[ felicidade simulada ]

Havia um país pelo mar,
mas eu não posso dizer com certeza,
se fez parte de uma ilha só,
ou somente de alguma região litoral.

Uma aterrissagem difícil em um espaço branco e podre
estirado cuidadosamente nas ondas,
e por um momento desejei saber,
a que propósito amedrontador poderia servir.

Pesado, rugindo, em mares infinitos,
que segredos esta amargura encerra?
Será que minhas recordações antigas com seus fantasmas famintos,
juntaram todas suas forças para chamar esta tempestade de melancolia?

Jardins mortos e vastos,
quase um labirinto,
cercados por ruínas e pedras cobertas de hera,
talvez este lugar estranho teria sido uma vez um palácio,
onde agora arbustos de viole(n)ta agüentam espinhos escuros e frios.

Um menino jovem estava me levando pela mão
ele estava me conduzindo abaixo dos jardins,
o qual eu apenas me lembrei o momento
em que eu dei o primeiro passo debaixo da terra.

Nós viemos para um quarto só com janelas pequenas,
e para minha surpresa poderia de alguma maneira ouvir,
embora reduzido a um murmúrio, agora como canto e zumbindo,
uma voz selvagem do mar rugindo.

O menino construiu uma catacumba,
ele está vivendo em uma tumba,
debaixo do chão,
onde não há nenhum som,
ele está escondendo,
do mundo.

Algo se assemelhando a um altar foi construído lá,
uma estrutura com algum uso obscuro secreto,
abaixo, em autocontemplação inanimada,
jazia uma tumba negra e bem lacrada.

Mesmo assim este material escuro tem uma leveza sobrenatural,
e quando eu toquei isto, e senti o que era,
parecia ignorar totalmente minha presença...
e sem deixar um rastro, veio gotejando, grotesco e suave.

Então fôra de um súbito, que algo de debaixo disto,
apareceu, inesperadamente:
eram as paixões e os amores do pequeno menino,
o qual ele os tinha selado com o maior cuidado.

Deveria ter havido algo em meu olhar,
Já que o pequeno menino começou a falar,
e para minha pergunta muda de por que ele tinha feito isto,
ele respondeu estas palavras a mim:

"Este é o único modo que eu posso me manter à salvo delas,
só isto pode garantir que elas não subirão novamente,
porque quando voltarem, elas sempre estarão me seguindo.

Não há nenhuma alternativa,
eu não posso escapar delas,
porque assim que eu tente,
elas se levantarão novamente,
somente para me assombrar... -
oh, acredite em mim, eu tentei numerosos tempos!

Mas aqui neste paraíso perdido e inerte eu achei finalmente
algo que trabalha como um selo.
Minha amargura e meu receio me mantêm longe do dano,
e suas tentações belíssimas já não podem me ferir.

Aterrados bem fundo, nesse pesado mármore negro,
todos os restos de felicidade devem ser cobertos com isto,
com minhas tristezas de fantasias irreais.
Somente assim, afogando-as em minhas lágrimas,
Eu posso fingir que elas não existem.

Ainda, todo o tempo eu devo estar atento,
porque de vez em quando,
sempre que me recordo de suas maldições mundanas,
já que realmente pode acontecer,
e a terra treme e se abala,
e algumas das pedras estão começando a deslizar.
E isso só me garante que eu não devo mais me lembrar.

Assim, constantemente eu tenho que observar a tumba,
cuidando em não pensar,
e se eu não conseguir sempre,
tenho que estar lá, consertar o dano,
empilhar todo meu sofrimento seguramente e substituir por novas decepções... "

O menino construiu uma catacumba,
ele está vivendo em uma tumba.
Debaixo do chão onde não há nenhum som
ele está escondendo do terrível mundo.

Sentir tudo isso
Me levou um tempo para a realidade
de que todos nós temos segredos e medos...

Nós fechamos nossas mentes da dor
na esperança de ocultar nossas piores lembranças,
de esquecer nossas desventuras amargas
e isso está causando estas lágrimas.

Sempre.