sábado, outubro 16, 2010

Assassínio.

[ vazio que a tudo consome ]

E de pé ergue-se tua unitária platéia,
aplaudindo secamente o último ato
do pequeno teatro de tragédias.

Ira-te contra teus próprios deuses!
Os mesmos que criastes conforme teu imaginário.
Revolta-te e agride-os com o mesmo furor antes dedicado a adorá-los.
Destrói seus templos e desfigura suas imagens,
buscando externar e findar a terrível dor que te consomes.
Odeia-os e os amaldiçoa, sem sequer entendê-los.
Mero mortal, conjunto carnal de sentimentos confusos!
Só enxerga suas próprias lamúrias...
Ergues em fúria teus punhos aos céus, pragueja aos brados!
Lança como raios ao Olimpo aos tuas frustrações,
em afronta ao próprio Zeus que és sem saber.
Nada és, mortal.
Nada és sem os deuses que tu mesmo criaste.
Assim como deuses nada são sem a incondicionalidade do teu amor e devoção.

E com feridas abertas das quais jorra um sangue grosso e incessante,
Com o gosto infinito de tal sangue amargo nos lábios,
os deuses aqui amaldiçoam sua própria existência.
Julgam-se mal, pessimistas que se tornaram.
Acreditam veemente, pelo total descontentmento do homem,
que só conseguiram causar dor e desamor.
E por quê ?
Por tanto se assemelharem aos mortais,
que tanto amam.
Que a tanto, amam.

Mais uma vez,
talvez a última delas,
Nietzsche matou Deus.

sexta-feira, outubro 15, 2010

Sucumbir-se

[ o desistir de sonhar ]
[ o arrependimento irremediável ]


E nada do que de fato é sólido, é capaz de no ar dissipar-se.
Vácuo inexiste perante a essência, que é imutável.
O abismo de erros e deslizes de fato, existe.
Terrenos, mundanos, antigos e vergonhosos.
Carne em ossos, momentos de tempestade,
que a tudo sacodem e inundam.

Um coração VAZIO ? Impossível.
Divagações que tentam se convencer.
E entendo, e respeito.
Quem sabe o mesmo faria ?

FRIO ? Sem dúvidas, como sempre.
MÓRBIDO ? Apenas minha pele sem sangue.
INANIMADO ? Como pode assim ser esse coração que por ti tanto se altera, acelera ?

Silêncio ecoa no vão de amargura e decepção,
mas jamais é eterno em meio ao salão de festas épico onde reside meu coração.
Odes apaixonantes que aos meus ouvidos doces canções se faziam,
agora jazem no abandono, na falta de crença de verossimidade.
Na verdade, parece que sou tua vaidade.

Deuses, deusas..
Heróis imaginários que criamos e tanto adoramos.
E que desconstruímos com uma velocidade absurda.
Pesamos apenas as coisas ruins, as porventuras funestas.
Esquecemos que nossos deuses, são, na realidade, meros mortais.
Que erram, se arrependem, choram, odiam, amarguram-se, enganam-se.
Mas, que acima de tudo, amam.
Incondicionalmente.
Talvez a única divindade presente nesses deuses,
seja a capacidade de matar ou morrer mil vezes por tal amor.

Perante nossas frustrações, tentamos nos enganar.
Tentamos provar a nós mesmos que somos capazes de esquecer.
Que não mais amamos, que não mais desejamos.
Despejamos ódio, rancor e veneno nas palavras que proferimos.
Talvez numa tentativa de nos fazer acreditar nisso tudo.
Não vos culpo, o comportamento humano é sempre de defesa.
E entendo que tudo que almejas, é apenas proteger-se.

O caminho mais fácil é o da frieza.
Da negação, do abandono.
É como colocar uma venda e deixar de enxergar o mundo ao redor.
Negar-se, omitir-se, fugir de si.
Não vos culpo, mereço.

Tua silhueta tão apreciada,
agora ausente de meu recanto,
de nossa inebriante alcova,
deixa saudades incólumes.
Essas sim, eternas.

Sombra.
Aquilo que te segue desde o começo.
E que te seguirá até o fim.
Parte de ti, pedaço de teu ser.

O que são epitáfios senão grandes e infinitas declarações de amor ?
Tenta de mim escapar, ofende-me com tuas palavras repletas de cristais de gelo.
Mas esquece que o reflexo do gelo quando exposto a brilhante luz do sol, exibe as mais belas cores,
Em seu íntimo, apenas pra quem sabe ver.
Ou a quem se dispuser a isso.

Feridas expostas.
Que sangram, que clamam.
Que chamam, que choram.
Assim como minhas palavras derradeiras.

Na tua tentativa de me repelir, admito que de fato, algo conseguistes.
Minha vida é ou era, total e plena dedicação a ti.
Cultos diários a tua felicidade.
Adoração ao teu semblante.
Preocupação absoluta com teu total bem-estar.
Isso, é o que entendo por VIDA.
E não há VIDA sem PAIXÃO.
E por aqui, encerro.
Ambas as coisas.



quarta-feira, outubro 13, 2010

Leechers & Deceptions

[ the perfect couple ]


Compromisso é sempre só consigo.

Do que vale abrir mão de vontades e desejos ?
Por mais torpes, levianos e momentâneos que possam ser,
São, ainda assim, seus.
Chamas que incendeiam sua alma,
Mesmo que por um instante.
É de todo válido apagá-las quando ainda são brasas ?
Qual recompensa virá ao fazer o certo ?
Abdico, vida minha, de ti.
Pra simplesmente viver em função de vontades de outrém.
E pra quê ?
Pra sentir olhos nas costas sempre que uma janela laranja pisca.
Pra notar o cenho franzido sempre que meu celular toca.
Pra confinar-se ao medo da desconfiança sempre presente.
Pra viver em cárcere no seu próprio habitat.

Tic tac, tic tac.
O tempo passa, e cansa.
Relato relapso de decepções recém adquiridas.
Amargura em combinação de letras.